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30/MAI
às 14h30 (segunda-feira)

PALESTRANTES

Cristovão Duarte

arquiteta

Mirian Bondim

historiadora

____

PROGRAMA

Art Metal Quinteto

 

Jessé Sadoc, Trompete

Wellington Moura, Trompete

Eliézer Gomes Conrado, Trompa

João Luiz Areias, Trombone

Eliezer Rodrigues, Tuba

GIOVANNI GABRIELI

Canzona per Sonare N. 2

SIGISMUND NEUKOMM

Marcha militar 3 (1819)

D. PEDRO I

Hino Imperial e Constitucional (para a Independência do Brasil, 1822)

 

L. V. BEETHOVEN

Sinfonia n.° 9 em ré menor, op. 125 (1824) 

Hino à Alegria

 

HENRIQUE ALVES DE MESQUITA

Ópera “O vagabundo” (1863)

Abertura 

 

Ali Babá (1872)

Tango da mágica

 

Polca Carlos Gomes

 

ANACLETO DE MEDEIROS

Trés estrelinhas 

 

HUMBERTO TEIXEIRA E LUIZ GONZAGA 

Mangaratiba 1949

 

BONFGLIO DE OLIVEIRA 

O bom filho à casa torna

 

MOZART CAMARGO GUARNIERI

Dança brasileira (1928)

 

HUMBERTO TEIXEIRA E LUIZ GONZAGA 

Asa Branca (1947)

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Foto: Andrea Nestrea

Mangaratiba_4.jpg

Foto: Andrea Nestrea

Casarão do Sahy

Endereço: Rodovia Rio-Santos km 428

Mangaratiba, Rio de Janeiro
CEP: 23860-000

NOTA DE PROGRAMA

Ícone do patrimônio histórico de Mangaratiba, o Casarão do Sahy, é um remanescente do complexo arquitetônico do “Engenho do Gago”. Seu nome provém da localização de suas terras na “Praia de João Gago''.  A arquitetura deste lindo Casarão de Pedra colonial cercado pela Mata Atlântica será reverberada em um programa musical que também traçará um panorama da história da região de Mangaratiba. Uma viagem sonora no tempo e no espaço realizada pelo QUINTETO ART METAL e acompanhada dos comentários da historiadora MIRIAN BODIM e do arquiteto CRISTOVÃO BUARQUE. 

 

Daremos início ao programa lembrando dos povos originários que habitavam esta região, os tupinambás. Apresentaremos duas melodias de seus cantos, anotadas por Jean de Léry, no século XVI, um missionário calvinista que veio ao Brasil como integrante da missão da França Antártica liderada por Nicolas de Villegagnon.  Léry registrou seis cantos tupinambás, em 1557 dos quais ouviremos Canidé-ioune, uma invocação à beleza de uma ave amarela, seguido da música cerimonial Heüra, oueh. 

A partir de 1555, contando com o apoio dos franceses, lutaram na "confederação dos tamoios" contra a escravidão de seu povo e a ocupação de suas terras  mas acabaram derrotados e exterminados. A colonização portuguesa de Mangaratiba começou após esta derrota quando a família Correia de Sá construiu um engenho de açúcar e aguardente em Muriqui. Para garantir a posse da terra, Martim Correia de Sá trouxe índios tupiniquins, transportados de Porto Seguro, por volta de 1615 a 1620, estabelecendo o Aldeamento de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba. Composta no mesmo período em que os portugueses começavam o processo colonizatório do território brasileiro,  Canzona per Sonare N. 2 é uma obra que representa bem a época da mudança da música renascentista para o barroco. A obra é de Giovanni Gabrieli, compositor e organista nascido em Veneza, na Itália 1555, que foi um dos músicos mais influentes de seu tempo.

Em 1764, a aldeia de Mangaratiba foi elevada à categoria de Freguesia de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba. Na Fazenda do Sahy, Manoel Antunes Susano construiu, em 1771, o grande engenho de açúcar e de aguardente, conhecido como “Engenho do Gago”.  O Casarão da Reserva do Sahy, guarda a memória desse estabelecimento que foi muito importante para a economia de Mangaratiba. Este grande complexo arquitetônico funcionava com um porto particular de escoamento de café e de cachaça. Também contava com uma casa de produção de farinha, lojas comerciais, trapiche, oratório, cemitério, grandes senzalas, barracões para guardar canoas, luxuosas casas de moradias assobradadas, área fechada com muros fortificados, rua calçada com pedra pé de moleque e um sofisticado sistema de canalização das águas do Rio Sahy que passava por dentro da propriedade. Para dialogar com o tempo de construção deste edifício, sua opulência e relevância tocaremos o Aleluia do terceiro movimento Allegro de Exsultate, Jubilate K. 165 de Wolfgang Amadeus Mozart com posto no mesmo período em 1773, mesmo período de construção deste casarão. 

Não podemos falar deste local sem lembrar que aqui eram desembarcados milhares de negros escravizados que vinham da ilha de Marambaia. Contam também, que dentro desse grande complexo arquitetônico eram realizados abomináveis leilões de negros subjugados à escravidão e após as negociações, os mesmos eram levados pela trilha “Sahy-Rubião”, para as fazendas de café de São João Marcos e demais localidades de serra acima. Assim, para recordarmos a presença africana na região de Mangaratiba tocaremos a música Maracatu de Chico-Rei de Francisco Mignone. Um bailado afro-brasileiro, composto em 1933, inspirado na lenda de Chico Rei, a qual se atribui a origem das festas de congado. Esse personagem, que aqui recebeu o nome de Chico, era o rei de uma tribo africana aprisionada e enviada ao Brasil onde seus componentes foram vendidos como escravos em Minas Gerais. Tão marcante é a presença da memória da escravidão no Sahy, que a maior lenda do município é a Lenda da Pedra do Banquete, também conhecida como Pedra da Conquista. Reza a lenda que num ato de revolta, os escravizados que trabalhavam no Sahy, mataram o feitor da fazenda, roubaram alimentos e bebidas na despensa da casa grande e foram fazer um grande banquete em cima dessa pedra. Cantaram e dançaram a noite toda. Ao terminar a festa, amarraram-se com cipó e juntos pularam da pedra, cometendo um suicídio coletivo para conquistar a tão sonhada liberdade.

 

Em 5 de julho de 1818, Itaguaí conquista sua emancipação política e passa a anexar a freguesia de Mangaratiba. A obra Marcha militar 3, que ouviremos a seguir foi composta no ano seguinte a esta emancipação política.  O compositor desta obra, o austriaco Sigismund Neukomm, foi um viajante incansável.  Trocou seu país natal, pela França e passou pelas mais importantes cortes da Europa e da Rússia. Da França embarcou para o Brasil em 1816 junto com a Missão Artística Francesa. Residiu no Rio de Janeiro até 1821, período em que compôs mais de 70 obras e foi um dos professores de música do então príncipe regente Dom Pedro de Alcântara.

 

Ao voltar de São Paulo, depois da proclamação da Independência do Brasil, em 1822, D. Pedro I passou por Itaguaí, da qual a Freguesia de Mangaratiba ainda era pertencente. Na época este era o caminho utilizado para ir e voltar a São Paulo. É importante lembrar que a Freguesia de Mangaratiba, contando com a ajuda de comerciantes e fazendeiros, colaborou com o processo de Independência e estruturação do país, construindo uma fortaleza, por ordem de Dom Pedro I em 1824, para combater grupos de portugueses revoltosos. Também colaborou com o processo de estruturação do país, recém emancipado, contribuindo com donativos para organizar a Marinha do Brasil. Por isso não podemos deixar de celebrar em Mangaratiba o bicentenário deste acontecimento histórico, trazendo também um aspecto em grande parte desconhecido do grande público, a importância da música para o imperador e também compositor Dom Pedro I. Tocaremos o Hino da Independência do Brasil (Hino Imperial e Constitucional de 1822) de sua autoria. Antes de Neukomm, o imperador já havia estudado com o lisboeta Marcos Portugal, o carioca Pe. José Maurício Nunes Garcia, considerados os mais importantes compositores de seus respectivos países no período. 

Também para lembrarmos da busca do homem pela Liberdade,  tocaremos o Hino a Alegria da Sinfonia nº 9 em Ré menor de L.V. Beethoven foi composto dois anos após a independência do Brasil em 1824. Um compositor que como nenhum outro valorizava a liberdade  fosse ela política,  artística, de escolha, de credo e individual em todos os aspectos da vida. Infelizmente uma liberdade que nesta região e em todo o Brasil era negada a todos os negros escravizados que aqui chegavam. 

 

Já no primeiro meado do século XIX, Mangaratiba começou a se destacar economicamente devido ao escoamento, para a Corte, de grande parte da produção de café de São João do Príncipe, Barra Mansa, Resende entre outros municípios. O movimento comercial na beira do Rio do Saco dinamizou a economia local, transformando Mangaratiba em um dos um dos maiores portos de escoamento de café e de tráfico negreiro do Brasil, contribuindo para a conquista de sua emancipação política, em 1831. Por volta de 1850 a 1863, Mangaratiba alcançou o seu apogeu econômico, podendo considerar o ano de 1857, como o ano mais marcante desse período histórico, devido à construção da Estrada Imperial.

 

A vida em Mangaratiba, em meados do século XIX, apresentava uma pequena rivalidade entre os negociantes da Vila e os negociantes do Povoado do Saco.  Enquanto na Vila a vida cultural estava diretamente ligada à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Guia e suas festas religiosas no Povoado as celebrações ocorriam nas tabernas, casas de bilhar e no teatro, onde atores como João Caetano faziam temporada. Para lembrar desse apogeu da cidade tocaremos três obras de um compositor que representa muito bem a época a atmosfera deste tempo de apogeu econômico, Henrique Alves de Mesquita.  Nascido em 1830 este compositor, maestro, organista e trompetista foi o primeiro aluno do Conservatório de Música do Rio de Janeiro a ser enviado à Europa para completar seus estudos, período em que escreveu a ópera O Vagabundo da qual ouviremos a abertura.

Mesquita também é historicamente reconhecido como o criador da expressão "tango brasileiro", usando o nome de tango para designar um tipo de música de teatro ligeiro, conhecida entre os franceses e espanhóis como habanera. Um exemplo é o Tango da mágica da opereta Ali Babá, a próxima obra do programa.  Mesquita também produziu peças musicais ligeiras, como é o caso da Polca Carlos Gomes que encerra esse bloco.

Infelizmente esse período áureo não durou muito. O desvio do escoamento do café pela linha férrea Piraiense, em 1864 e a Abolição da Escravatura, em 1888 contribuíram de forma significativa para essa decadência. A peça Três estrelinhas, de Anacleto de Medeiros retrata bem a melancolia dessa época. Filho de escrava liberta, Anacleto criou fama como compositor, tendo suas peças executadas por bandas de todo o país. 

O município só recomeçou seu crescimento econômico com a inauguração da linha férrea em 1914. Os trens que circulavam por Mangaratiba, apelidados por “Macaquinhos” possuíam vagões que transportavam suas riquezas: lenha, carvão e, principalmente, a grande produção de banana. Sobre os trilhos dos trens, chegava à região, o que seria hoje a sua principal base econômica, o turismo praiano. Assim pequenas localidades foram se transformando em vilas balneárias. Não há peça que melhor retrate esse período do que a música Mangaratiba de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. Apesar de ser advogado, político, instrumentista, poeta, compositor, fundador e Presidente da Academia Brasileira de Música Popular, Humberto Teixeira era conhecido mesmo como o grande parceiro de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Por conta da ligação afetiva que tinha com a cidade de Mangaratiba, onde tinha uma casa de praia, compôs esse grande sucesso homenageando o município e mostrando aspectos de sua vivência cotidiana neste local. De acordo com o pesquisador Ricardo Cravo Albim, apesar de constar como uma obra de co-autoria com Luiz Gonzaga, a obra é inteiramente de sua autoria, tendo o próprio Gonzagão revelado que não escreveu nem sequer uma única nota desta canção. 

 

Na mesma atmosfera ouviremos  "Bom filho à Casa torna"  um maxixe do compositor Bonfiglio de Oliveira que dialoga bem com esse momento de retorno da prosperidade de Mangaratiba.  Bonfiglio de Oliveira, integrou o conjunto Choro Carioca, de Pixinguinha, e foi o autor de grandes clássicos das rodas de choro. 

 

Em 1949, a inauguração da Estrada RJ-14 ampliou ainda mais o desenvolvimento turístico da região, facilitando também o escoamento do pescado, da produção de bananas e de outros produtos agrícolas.  E finalmente em 1974, com a Rodovia Rio-Santos o município sentiu o boom da explosão demográfica. Encerramos o nosso concerto com uma música de caráter alegre e dançante em “Tempo de Samba”, que reflete bem essa fusão dos elementos indígenas, africanos e europeus, típicos da história de Mangaratiba e de todo o Brasil, a Dança Brasileira de Camargo Guarnieri. Este compositor Paulista, de origem italiana, tinha Mário de Andrade como seu mestre intelectual. Com ele discutia estética, ouvia obras musicais e tomava livros emprestados. Como encore voltaremos a Humberto Teixeira trazendo a mais famosa obra musical deste ilustre personagem de Mangaratiba, Asa Branca.

Casarão do Sahy

Um dos patrimônios históricos de destaque em Mangaratiba, por sua opulência, o prédio do antigo “Engenho do Gago”, vem encantando todos que visitam o condomínio “Reserva do Sahy”. O imóvel, denominado como “Casarão do Sahy”, foi construído por Manoel Antunes Susano, em 1771, e se destacou como um grande engenho de açúcar e de aguardente, no final do século XVIII, e, somente, como produtor de aguardente até a Abolição da Escravidão (em 1888). Atrás do casarão, ainda subsiste resquícios do aqueduto que canalizava a água da “cachoeira do Gago”, até a grande roda d’água que movimentava a engenhoca de moer cana.

 

A antiga construção possuía dois andares. Ou seja era um prédio assobradado, com o segundo andar todo estruturado em madeira, como era comum na época.

 

O nome “Engenho do Gago” se deve ao fato do estabelecimento estar localizado em terras registradas como “Praia de João Gago”.

Consta em registros de compra e venda, em testamentos e inventários, que, durante o período escravocrata, este engenho pertenceu às famílias Susano, Araújo, Montebello Bondim e Pimenta. Consta também que, além da produção de açúcar e cachaça, o estabelecimento produziu farinha e fubá.

Em 1877, a Câmara Municipal de Mangaratiba enviou um ofício à Província do Rio de Janeiro, comunicando que o município possuía sete fábricas de aguardente de cana, sendo as mais notáveis, a do Sahy de Carlos Antonio Pimenta (Engenho do Gago) e a do Saco, dos herdeiros do finado Henrique José Teixeira (Engenho da Cachoeirinha).

 

A sede administrativa do antigo “Engenho do Gago” ficava localizada na praia do Sahy, onde se se encontra o maior sítio histórico de Mangaratiba, um grande complexo arquitetônico em meio a Mata Atlântica que encanta a todos que por ali passam, por sua beleza e seus mistérios. Pesquisas históricas e arqueológicas apontam que dentro do grande complexo arquitetônico funcionava (atual casarão de pedra) com um porto particular de escoamento de café, de cachaça e de desembarque de negros africanos escravizados, uma casa de produção de farinha, lojas comerciais, trapiche, oratório, cemitério, grandes senzalas, barracões para guardar canoas, luxuosas casas de moradias assobradadas, área fechada com muros fortificados, rua calçada com pedra pé de moleque etc. As pesquisas apontam também que um sofisticado sistema de canalização das águas do Rio Sahy passava por dentro da propriedade.

 

Segundo a história oral, nesse canal eram desembarcados os negros escravizados que vinham da ilha de Marambaia. Contam também, que dentro desse grande complexo arquitetônico eram realizados os abomináveis leilões de negros subjugados à escravidão e após as negociações, os mesmos eram levados pela trilha “Sahy-Rubião”, para as fazendas de café de São João Marcos e demais localidades de serra acima.

 

O movimento dessa antiga estrada de tropa era tão grande que, em 1822, foi estabelecida no alto do morro do Pouso Triste, um bateria com dois canhões, para garantir a proteção das riquezas, que por ali circulava, e dar combate aos possíveis ataques de portugueses contrários à Independência do Brasil.

 

Tão marcante é a presença da memória da escravidão no Sahy, que a maior lenda do município é a Lenda da Pedra do Banquete, também conhecida como Pedra da Conquista.

 

Reza a lenda que num ato de revolta, os escravizados que trabalhavam no sahy, mataram o feitor da fazenda, roubaram alimentos e bebidas na dispensa da casa grande e foram fazer um grande banquete em cima dessa pedra. Cantaram e dançaram a noite toda. Ao terminar a festa, amarraram-se com cipó e juntos pularam da pedra, cometendo um suicídio coletivo para conquistar a tão sonhada liberdade.

 

Atualmente, no casarão histórico do antigo “Engenho do Gago” funciona a sede social do condomínio Reserva do Sahy.  O importante patrimônio possui registro no IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e, faz parte do inventário do INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural).

Fotos

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