Cine-Theatro Central
14 DEZ | 19h
Com obras de: GIOACHINO ROSSINI, MAURICE RAVEL, PIETRO MASCAGNI, HEITOR VILLA-LOBOS, JAKUB POLAK, ANTONIO VIVALDI, LUIS BACALOV,
ENNIO MORRICONE e MILTON NASCIMENTO.
Endereço: Praça João Pessoa, S/N - Centro
Juiz de Fora | MG
Orquestra Acadêmica da UFJF
Anna Lamha
Regência
Luis Leite
Violão
Mônica Olender
Palestrante
Programa
Orquestra Acadêmica da UFJF
Coordenação: Raquel Rohr,
Eliezer Isidoro e Larissa Novo
Anna Lamha, regência
Solista:
Luis Leite, violão
Palestrante:
Mônica Olender, arquiteta
Programa
GIOACHINO ROSSINI (1792 - 1868)
La Danza
Duração: 3 minutos
MAURICE RAVEL (1875 - 1937)
Pavane pour une infante défunte
Duração: 7 minutos
PIETRO MASCAGNI (1863 - 1945)
Cavalleria Rusticana - Intermezzo
Duração: 3 minutos
HEITOR VILLA-LOBOS (1887 - 1959)
Bachianas n. 4
Prelúdio
Duração: 4 minutos
JAKUB POLAK (1545 - 1605)
Prelude e Gagliarda
Duração: 3 minutos
ANTONIO VIVALDI (1678 - 1741)
Concerto em Ré Maior RV 93 para Alaúde e Cordas
-
Allegro Giusto
-
Largo
-
Allegro
Duração: 12 minutos
LUIS BACALOV (1933 - 2017)
Il Postino do filme "O Carteiro e o Poeta"
Duração: 7 minutos
ENNIO MORRICONE (1928 - 2020)
Gabriel’s Oboe do Filme "A Missão"
"Tema Principal" e "Tema de Amor" do Filme "Cinema Paradiso"
Duração: 10 minutos
MILTON NASCIMENTO (1942-)
Travessia
Maria, Maria
Arranjos: Jessé Sadoc
Duração: 9 minutos
Nota de Programa
Um edifício que navega entre o Eclético e o Art Dèco, que contrasta sua simplicidade externa com a rica decoração artística de seu interior. Com uma arquitetura do início do século XX, que incorporava técnicas inovadoras e estilos de múltiplas influências culturais e artísticas. Este é o Cine-Theatro Central, um ícone da arquitetura, da história e da arte decorativa de Juiz de Fora, que será reverberado pela Orquestra Acadêmica da UFJF e o virtuoso violonista Luis Leite. Esta celebração da arte, que transcende o tempo e o espaço desta casa, contará também com os comentários da arquiteta Mônica Olender, que nos guiará com sua profunda expertise em conservação e restauração, pelos detalhes desta arquitetura e história, que refletem a efervescência de uma época de transição para a modernidade. Uma modernização resultada de uma série de recursos capitais que passaram a circular na cidade devido ao crescimento de sua indústria cafeeira e têxtil e que fez com que Juiz de Fora, a "Princesinha de Minas", passasse a ter uma classe social em ascensão que almejava para si mais divertimentos.
Nossa história começa em 1926 quando quatro amigos, Francisco Campos Valadares, Químico Corrêa, Diogo Rocha e Gomes Nogueira adquiriram o barracão de ferro com telhado de zinco do antigo Teatro Polytheama, uma simplória casa de espetáculos que ficava no mesmo terreno entre a rua São João e a antiga rua da Califórnia, hoje Rua Halfeld, onde se encontra o Cine-Theatro Central.
Menos de um ano depois, em junho de 1927, juntos fundaram a Companhia Central de Diversões e convidaram o arquiteto ítalo-brasileiro Raphael Arcuri para levantar o projeto de um novo imóvel. A sigla dessa companhia CCD pode ser vista acima do palco do Cine-Theatro Central. Em troca, o arquiteto se tornou o quinto sócio do empreendimento, já que o orçamento ultrapassava as finanças do grupo.
Filho de Pantaleone Arcuri, um imigrante italiano que chegou ao Brasil e estabeleceu-se como pedreiro, e mais tarde empreiteiro de construções em Juiz de Fora, Raphael fez sua formação em arquitetura num atelier napolitano durante um período marcado pela fusão entre a cultura estilística e inovação. A empresa de seu pai, Pantaleone Arcuri e Spinelli, empregava muitos patrícios, muitas vezes contratados ainda na Itália.
Por isso iniciamos nosso programa com "La Danza" de Gioachino Rossini, uma obra que nos transportará ao tempo de construção deste teatro, trazendo um pouco deste espírito italiano que ecoa nesta construção.
Ao entrarmos no teatro, nos deparamos no Foyer, em estilo Art Nouveau, com as primeiras pinturas decorativas de italiano Angelo Bigi, realizadas em 1928. Neste espaço, que dá acesso à plateia e aos camarotes, onde a sociedade juiz-forana se reunia antes das apresentações, podemos ver nas paredes quatro ninfas, que representam as quatro estações do ano. Pinturas que ao longo dos anos sofreram alterações. Durante a restauração de 1996, se descobriu que as portas abaixo delas haviam sido expandidas, fazendo com que as pinturas perdessem seus formatos originais. Por exemplo, as lacunas deixadas nas áreas correspondentes aos pés das ninfas e à cauda do pavão precisaram ser restauradas. Outra curiosidade é que elas haviam sido pintadas nuas, mas em 1936, a sociedade conservadora da época resolveu vesti-las. Por isso, para mergulharmos no espírito desse foyer, tocaremos "Pavane pour une infante défunte" de Maurice Ravel. Uma obra que nos envolverá com sua melodia suave, nostálgica e refinada, transmitindo toda a elegância serena e a delicadeza visual dessas ninfas.
A próxima peça de nosso programa marca o dia de inauguração deste teatro, em 30 de março de 1929. Foi nesta data que o Cine-Theatro Central abriu pela primeira vez suas portas, numa solenidade que contou com apresentação de uma orquestra realizando o Intermezzo da ópera "Cavalleria Rusticana" de Pietro Mascagni e a exibição do filme mudo “Esposalheia" de Edward Laemmle. O intermezzo se manteve presente nas aberturas de quase todas as sessões no teatro, em exibições ao vivo, no fosso e alguns anos mais tarde, passou também a ser tocada para receber o público no foyer em um disco de 16 polegadas, quando o Cine-Theatro Central se tornou a primeira sala de Juiz de Fora a oferecer som mecânico.
Nossa jornada musical continua com o Prelúdio da "Bachianas Brasileiras No. 4", de Heitor Villa-Lobos, uma composição que ressoa o encontro entre o velho e o novo mundo. Assim como Bachianas nos apresentam uma fusão entre o contraponto barroco de Johann Sebastian Bach e a textura melódica do folclore brasileiro, o Cine-Theatro Central é também o resultado de uma confluência cultural, que emergiu do encontro de tradições arquitetônicas europeias e brasileiras.
Seguimos com uma música que nos convida a apreciar a pintura interna sobre o estuque do teto do salão deste teatro. Uma estrutura de concreto armado com 36 metros de extensão, com pinturas de Ângelo Bigi, de ambiência neoclássica que homenageia as artes da música, da ópera e do teatro, destacando figuras como as de Mozart, Carlos Gomes e Wagner. No teto e nas paredes que ladeiam o palco na altura das galerias, também encontramos figuras mitológicas que exploram a humanidade, a beleza física e intelectual, a natureza e a perspectiva, bem como os ideais de proporção e harmonia inspirados na arte clássica grega e romana muito exploradas também como elementos decorativos na renascença e no período Barroco. Enquanto a mitologia no renascimento enfatizava o humanismo, destacando temas de heroísmo, moralidade e virtude, no período Barroco ela era utilizada de uma maneira dramática e emocional, frequentemente para evocar o movimento, a paixão e a intensidade. Por esse motivo faremos uma volta ao passado através da música indo da renascença do compositor polones JAKUB POLAK com Prelude e Gagliarda para alaúde ao barroco do "Concerto em Ré Maior RV 93 para Alaúde e Cordas" de ANTONIO VIVALDI. Duas obras que também nos farão lembrar de outro momento importante desta casa, quando em 1997 o teatro recebeu pela primeira vez o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. O evento, organizado pelo Centro Cultural Pró-Música, e que hoje também pertence à UFJF, levou importantes concertos e óperas ao Central.
Ao lembrarmos e revivemos o passado cinematográfico deste teatro, que funcionou também como cinema até os anos 90, apresentaremos três trilhas sonoras emblemáticas dos filmes "O Carteiro e o Poeta" de Michael Radford, "A Missão" de Roland Joffé, "Cinema Paradiso" de Giuseppe Tornatore. Deles ouviremos os seguintes temas musicais: "Il Postino" (de O Carteiro e o Poeta), "Gabriel's Oboe" (de A Missão), "Tema Principal" e "Tema de Amor" (de Cinema Paradiso).
"Cinema Paradiso" celebra também outro momento histórico deste teatro, quando no ano de 1994 este edifício, após ser adquirido pela Universidade Federal de Juiz de Fora, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio federal, e se inicia um movimento pela revitalização do teatro que resulta na grande restauração de 1996. Uma música que irá representar a conexão poderosa e afetiva que o Cine-Theatro Central exerce sobre a comunidade juiz-forana. Assim como o protagonista do filme, o menino Salvatore Di Vita desenvolve uma profunda ligação emocional com seu cinema local, a comunidade de Juiz de Fora nutriu ao longo de quase um século uma relação com este teatro, um lugar repleto de memórias e histórias que fazem parte da identidade cultural desta cidade. Ao ouvirmos este tema evocamos toda esta nostalgia e o amor por este patrimônio cultural histórico ressaltando que esse teatro não é apenas um bem físico, mas um legado que pertence a toda a comunidade de Juiz de Fora e a todos nós brasileiros.
Encerramos nosso concerto lembrando que no ano de 1968 foi realizada nesta casa a primeira edição do Festival de Música Popular Brasileira de Juiz de Fora, que ganhou outras cinco edições e chegou ao fim em 1973, marcando a história da música local e nacional. Para isso tocaremos "Travessia" e "Maria Maria" de MIlton Nascimento, compositor mineiro, voz ativa na década de 90, em prol da recuperação deste edifício, que também marcou com sua voz a história da música popular brasileira. Duas obras que nos lembrarão ainda de um evento recente do Cine-Theatro Central, quando no ano de 2019 o cantor realizou o show de reabertura desta casa após sua última reforma.
Orquestra Acadêmica da UFJF
Criada em 2015, a Orquestra Acadêmica da Universidade Federal de Juiz de Fora é parte integrante do Laboratório de Grupos Musicais da UFJF. É formada por docentes, TAEs e estudantes da instituição, além de músicos convidados. Como disciplina do Departamento de Música do Instituto de Artes e Design, a Orquestra integra o currículo dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Música da UFJF e colabora com as classes de composição, arranjo, orquestração, instrumentos e canto. Ela cumpre seu papel de formação dos alunos abrangendo as áreas do ensino, pesquisa e extensão, afora seu destacado viés cultural. Desde sua fundação, o grupo realizou concertos em diversos espaços da cidade e região, como o Auditório Geraldo Pereira (IAD/UFJF), Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), Sociedade Filarmônica de Juiz de Fora, Conservatório Estadual De Música Haidée França Americano, IF-Sudeste Campus Rio Pomba, entre outros.
Luis Leite
Violão
Luis Leite é um dos principais violonistas brasileiros em atividade, com mais de 20 anos de carreira e turnês em mais de 30 países. Sua música representa a união do clássico e popular – escola conhecida como “Third Stream” –, sendo hoje um dos principais representantes deste estilo no mundo do violão.
Ao longo de sua carreira, lançou diversos álbuns com composições originais e seu álbum Vento Sul foi eleito um dos melhores lançamentos de música instrumental do ano de 2018.
Apontado como “um verdadeiro virtuose do violão” (Revista Concerto, Viena), Luis foi vencedor de vários concursos internacionais, como o John Duarte Competition, na Áustria e o Ivor Mairants Guitar Prize, em Londres.
Formado pela Universität für Musik (Viena) e Accademia Musicale Chigiana (Itália), Luis é PhD em linguagens de improvisação para violão. Retornou ao Brasil em 2009, assumindo a cátedra de violão da UFJF, onde criou o primeiro bacharelado híbrido em violão clássico e popular do país. Também é professor convidado na JML University (Viena).
Anna Lamha
Regência
Anna Lamha é maestra e compositora natural de Juiz de Fora. Realizou seus estudos na Universidade Federal de Juiz de Fora, e hoje atua como funcionária do Departamento de Música, realizando gravações no Estúdio de Música e conduzindo a Orquestra Acadêmica da UFJF. Atualmente, é mestranda no PPGACL (IAD UFJF), pesquisando formas de interações corpóreas na composição musical eletroacústica.
Mônica Olender
Arquiteta
Coordenadora Pro Tempore do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFJF. Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1999); especialização em Conservação e Restauração em Sítios e Monumentos - CECRE - pela Universidade Federal da Bahia/ UNESCO (2003); mestrado em Arquitetura e Urbanismo - área de concentração Conservação e Restauro - pela Universidade Federal da Bahia (2006); doutora em Arquitetura e Urbanismo - área de concentração Urbanismo - Universidade Federal da Bahia (2021). Desde 2012 é Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, onde ministra as disciplinas Técnicas Retrospectivas e Projeto em Patrimônio Cultural. Participa, como pesquisadora, do Grupo de Pesquisa Laboratório de Patrimônios Culturais - LAPA/UFJF e como estudante, do Grupo de Pesquisa Cidades Políticas - CIPOS/UFBA. Sua experiência pedagógica se deve à sua atuação, de 2011 a 2012, no Campus Santos Dumont do IFSUDESTEMG, onde foi responsável pela elaboração do PPP do Curso de Conservação e Restauração de Bens Ferroviários; de 2006 a 2011, como coordenadora do Curso de Especialização em Gestão do Patrimônio Cultural desenvolvido no Instituto Metodista Granbery - JF/MG; e como professora titular do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Ensino Superior-JF, de 2008 a 2011, onde ministrou as disciplinas de Técnicas Retrospectivas I e II e Arquitetura e Urbanismo em Juiz de Fora. Participou, de 1999 a 2011, da maioria dos projetos realizados pelo Programa de Estudos e Revitalização da Memória Arquitetônica e Artística - PERMEAR (do qual foi presidente e vice-presidente). Tem experiência de atuação na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em elaboração de projetos de Conservação e Restauração de bens imóveis e na preservação de bens culturais". Integra, desde 2012, o Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - ICOMOS.
Cine-Theatro Central
O Cine-Theatro Central é um dos principais bens do patrimônio cultural de Juiz de Fora. Tombado pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi adquirido pela UFJF em 1994, restaurado e reinaugurado em 1996. Com capacidade para 1.751 lugares, o Central combina características clássicas, em seu interior, e influências eclética e art déco na fachada. Erguido pela Companhia Industrial e Construtora Pantaleone Arcuri e inaugurado em 30 de março de 1929, o teatro foi projetado para apresentações cênicas, óperas, orquestras e balé e integrou o circuito comercial de cinema até o início da década de 1990 como uma das principais salas de projeção da cidade.
Atualmente, o local é aberto ao público, seja para visitas guiadas seja para realização de espetáculos diversos (teatro, música e outros eventos multilinguagens). Ao longo de seus quase 95 anos, o Cine-Theatro Central tem recebido artistas locais, nacionais e internacionais.
Ficha Técnica
Orquestra Acadêmica da UFJF
REGÊNCIA: Anna Lamha
PRIMEIROS VIOLINOS
Alisson Berbert* (spalla)
Eliézer Isidoro*
Ladislau Brun*
Estêvão Coelho Teixeira*
SEGUNDOS VIOLINOS
Ana Paula Lacerda (chefe de naipe)
Julio Gonçalves
Júlia Nogueira
Jeosafá Carvalho***
VIOLAS
Bruna Caroline* (chefe de naipe)
Lenara Finotti**
VIOLONCELOS
Raquel Rohr* (chefe de naipe)
Ana Vieira**
Flávio Scaraboto**
CONTRABAIXOS
Lise Bastos (convidada)
*Professores e TAEs
** Músicos Convidados
*** Bolsistas