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FIMA - 1ª edição - 2022

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19/DEZ
​às 17h (domingo)

PALESTRANTE

Guilherme Bueno

____

PROGRAMA

 

Eliana Coelho

soprano

Gustavo Carvalho

piano

 

CAMILLE SAINT-SAËNS

L’attente

Chanson triste

 

JULES MASSENET

Élégie

Sérénade d’Automne

 

GEORGES BIZET

Absence

Adieux de l'hôtesse arabe

Après l’hiver

 

GIUSEPPE VERDI

Non t'accostare all'urna

In solitária stanza

Nell’orror di notte oscura

Perduta ho la pace

Il tramonto

Ad una stella

 

Endereço: Rua Jardim Botânico, nº 414 - Jardim Botânico | Rio de Janeiro

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Foto: Divulgação Parque Lage

NOTA DE PROGRAMA

Um edifício eclético, com referências a diferentes tempos e onde a inspiração na arquitetura italiana da antiguidade romana e do renascimento florentino e veneziano é predominante. Um local para se contar histórias e cantar estórias, no qual arquitetura e a natureza, edifício e paisagem, realizam um contraponto singular e romântico que se chama Parque Lage.

 

Seu palacete, construído na década de 20 para ser a casa da mezzo-soprano Gabriella Besanzoni, se tornou, nas últimas décadas, um epicentro da arte e da cultura contemporânea.  Um centro de formação, questionamento, experimentação e diálogo. É neste espaço diverso, que receberemos a voz da soprano Eliane Coelho e o piano de Gustavo Carvalho.

 

Abriremos este programa celebrando Camille Saint-Saens, pelos 100 anos de seu falecimento em 16 de dezembro de 1921.  Gabriella Besanzoni foi uma grande intérprete de sua ópera Sansão e Dalila. Por isso, para marcar esta efeméride, realizamos duas canções deste compositor. A primeira, L’attente, nos remete a atmosfera desse contraponto romântico entre natureza e construções que vemos no Parque Lage. Porém aqui, esse contraponto é afetado pela paixão selvagem de um amado valente que galopa a toda velocidade entre árvores, paisagens, animais e construções para chegar até sua donzela. O poema de Victor Hugo foi retirado de sua coleção conhecida como Les Orientales. O romantismo segue na próxima peça de Saint-Saens que ouviremos, intitulada Chanson Triste de Jean Lahor (pseudônimo de Henri Cazalis).  Uma obra admiravelmente econômica e contundente, onde parte do texto é cantado sob acordes retidos. Algo que nos dá impressão de que a cantora quase flutua ao contar a história de que talvez seja possível escapar de uma vida ruim e de dores do passado quando ouvimos uma balada cantada por alguém que amamos.  

 

O salão nobre deste palacete, onde acontece este concerto, ecoa as memórias de muitos saraus realizados por Gabriela. Por isso, seguimos nessa atmosfera ouvindo duas obras de Jules Massenet, compositor francês da era romântica que ficou especialmente conhecido por suas composições de ópera, mas que também fez lindas canções para se cantar ao piano. Primeiro ouviremos Élégie, com texto do famoso libretista Louis Gallet, que conta a história de um amante que, de coração partido por sua ex-amada, está tão inconsolável que não consegue mais ver o céu azul ou ouvir o canto dos pássaros.  Na segunda peça do mesmo compositor ouviremos Sérénade d’Automne, de Madame Blanchecotte, que apresenta uma linha vocal graciosa e cadenciada.  Esta obra faz parte de uma série de canções onde Massenet escolheu poetisas femininas pouco conhecidas pertencentes a círculos literários masculinos e que imprimem uma linguagem mais informal em seus textos.

 

Continuaremos nosso programa apresentando três canções de George Bizet, talvez um dos compositores mais importantes na vida de Gabriela Besanzoni. Um dos papéis mais emblemáticos e marcantes de sua carreira foi como a protagonista principal de Carmen, tanto que foi esta a ópera escolhida para sua apresentação de despedida nas Termas de Caracala, em Roma, em 1939. Por isso, nada mais apropriado do que começar esse ciclo com a canção Absence, obra que, com sua flexibilidade e beleza da melodia (‘sempre senza rigore’), profetiza a invenção melódica de Carmen que apareceria apenas três anos depois. 

 

Seguimos com Adieux de l’hotesse arabe, obra que mostra o ecletismo de Bizet ao introduzir técnicas exóticas em sua música. Um dos melhores exemplos pode ser encontrado nesta canção, onde o compositor não só expressa este exotismo no cenário que retrata na música, como também nos sentimentos da personagem. Uma enfraquecida e solitária mulher, que talvez pertença a um harém, se apaixona por um belo jovem viajante europeu. Apesar de fazer de tudo para seduzi-lo, ele recusa o convite e a personagem, em desespero, pede para que ele então lembre dela. Uma obra, assim como a de Camille Saint-Saens, baseada em um poema do livro  Les Orientales, de Victor Hugo. Também de Victor Hugo é a letra de Après l’hiver, que encerra esse ciclo. 

 

Finalmente, com Giuseppe Verdi podemos criar um elo italiano à altura desta arquitetura que passeia da antiguidade romana ao renascimento florentino e veneziano. Por outro lado, será que Verdi também, ou mais precisamente sua ópera Aida, é o responsável pelos elementos de origem orientalizante que encontramos na cobertura deste palacete? Aqui vemos dois exemplares idênticos de uma esfinge alada, colocadas no aldeamento das escadas que dão acesso à parte superior do terraço. É bem provável que sim, afinal Gabriela Besanzoni ficou famosa por suas atuações como Amneris nesta ópera. Assim, para encerrar esse programa, ouviremos seis canções deste compositor, que foram feitas sobre textos de diferentes poetas e não seguem uma linha histórica específica. O que conecta estas peças é que todas foram escritas sobre um tema central que é o romance. O curioso é que ao invés de escolher textos sobre o lado positivo do amor, Verdi escolheu temas sobre batalhas e perdas associadas ao romance, como quando um homem morto que fala com sua mulher que o traiu em vida em Non t’accostare all’urna ; ou um poeta morto que fala de sua vida em termos metafóricos em In solitaria stanza e em Nell’orror di notte oscura. Neles, Verdi retrata justamente o horror de uma noite escura com a mesma visão da canção que abre o ciclo. Seguimos com Peduta ho lo pace, Meine Ruh ist hin, mein Herz ist schwer, a famosa canção de Gretchen na roda giratória do Fausto, de Goethe, musicada por incontáveis compositores, na qual Verdi ilustra a depressão inevitável da protagonista com uma pulsação dolorosa e latejante e uma linha vocal que alterna entre a efusão lírica de suas memórias e a desesperança entorpecida de seu presente. A tradução italiana é de Luigi Balestra. Já Il tramonto tem uma regularidade quase clássica embelezada por um acompanhamento de piano de textura rica que nos embriaga com o amor ao pôr do sol, enquanto Ad una stella, que encerra a noite, nos faz lembrar uma última vez de Gabriella Besanzoni, com esse poema de Andrea Maffei feito para uma estrela que faz harmonias com os anjos e alegra os céus.

Parque Lage

Erguido no final da década de 1920, o palacete que atualmente abriga a Escola de Artes Visuais do Parque Lage ocupa um terreno que, assim como o parque, sediou no período colonial um engenho e em meados do século XIX recebe o projeto paisagístico do inglês John Tyndale, o qual cria uma ambientação romântica, cuja atmosfera pitoresca se intensificaria na medida em que as antigas edificações remanescentes do engenho transformam-se em ruínas.

Ao longo de sua história, o terreno teve sucessivos proprietários (família Salema, família Fagundes Varela, família Rodrigo de Freitas, família Sá Rabello, família Lage) até ser finalmente adquirido pelo industrial Henrique Lage que ali decide erguer em homenagem a sua esposa, a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni, a mansão que domina a vista do terreno. 

A autoria do projeto, tradicionalmente atribuída ao arquiteto italiano Mario Vodret, tem sido recentemente disputada por especialistas, que tendem a creditá-la ao também italiano Riccardo Buffa. Identificado com o ecletismo, estilo predominante em boa parte da produção arquitetônica entre a metade final do século XIX e as primeiras décadas do século XX (mesmo com o modernismo já em curso), o prédio tem como motivo e principal fonte de referência a Villa renascentista, com sua distribuição simétrica e proporcionada das partes, a austeridade dos volumes e o emprego de elementos da arquitetura clássica como arcos romanos e colunas com capitéis que ora reproduzem as ordens greco-romanas, ora criam variações sobre elas. 

Dentre os elementos decorativos secundários, aparecem referências ao orientalismo também em voga no ecletismo, como ilustrado, por exemplo, nas esfinges a decorar a escadaria na cobertura e nas esculturas de seres fantásticos presentes na balaustrada do balcão. A piscina, dominando o pátio central, espelhando o céu e a paisagem circundante da Mata Atlântica, remete ao modelo da casa romana com seu impluvium, uma espécie de tanque cuja função original era armazenar a água da chuva, mas, que, no caso da mansão dos Lage, destina-se a área de lazer. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (INEPAC).  

Guilherme Bueno

Fotos

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Patrocínio

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Realização

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